quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A Síndrome de João Romão.




Reli recentemente o romance do profícuo escritor maranhense Aluisio Azevedo intitulado “O Cortiço”, havia lido pela primeira vez com muita murmuração e resignação no ensino médio a pedido do meu professor de literatura. O livro trata-se de uma obra clássica da literatura nacional, construído obedecendo ao modelo racional, lúcido do naturalismo. Uma vez mais me encantei com a coesão, poesia, capacidade, e acima de tudo pela sensibilidade do autor em descrever situações psíquicas dos personagens. Aluisio analisa com maestria a sociedade a partir dos grupos humanos marginalizados. (Bertoleza, Rita Baiana, Firmo). Por estranho que seja não deixei de pensar na gênese do movimento Pentecostal do início do Século XX na Rua Azuza, ainda que metaforicamente. “E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvar no esterco.” (AZEVEDO. 2000).
O Cortiço entre muitas coisas, conta-nos sobre a saga do português radicado no Brasil, por nome João Romão, que age de forma inescrupulosa para alcançar os seus objetivos, passando por cima de tudo e todos. Romão casa-se ultilitariamente, as amizades para ele são molas propulsoras de vôos mais ousados. João Romão é o protótipo do homem moderno, não respeita ninguém, os fracos são meramente humos que alimentam o progresso; a moral não existe não há contemplação, seu lema (dilema) é conseguir dinheiro o máximo que puder.
No decorrer leitura, mesmo que de forma involuntária, comecei a ver que as nossas igrejas estão cheias de crentes que sofrem da síndrome de “João Romão”, pessoas cujo fito é se locupletarem de qualquer forma, olham o seu relacionamento com Deus e com os seus irmãos apenas com trampolim para os holofotes. Lembro-me de uma ocasião em que um fiel procurou o meu pai, para dizer-lhe que não seria mais crente, pois não havia recebido as “bênçãos” que a igreja lhe prometera, ele estava completo de razão ao dizer a igreja, pois o Cristo não promete riquezas aqui e agora, mas ali e além, a ética do reino preconiza as frivolidades, e os pobres porque dos tais é o reino dos céus. A maior tristeza que tenho é o fato de pastores no Brasil estarem vendendo formulas epicuristas para os crentes se tornarem “Romões” da fé, com discursos triunfalistas e narcisistas, as bênçãos de Deus são aferidas apenas pela prosperidade financeira. Em visita a uma conceituada igreja que conheço desde a minha infância, sentir-me envergonhado com a verbalização de uma irmã, que afirmava ufanicamente que crente fiel não passa por dificuldades, e que fomos chamados para sermos “cabeça e não calda”. Graças à providência, a mensagem por nos ministrada naquela noite afirmava justamente o contrário, confesso que as palavras dela foram mais aceitas do que as minhas.
O romance de Azevedo é pessimista, não a solução nem para sociedade nem para o individuo, mesmo João Romão tendo alcançado os bens, não estava imune às contingências e ambigüidades do “ser”, sua vida continuava tumultuada, promiscua e inconstante. Talvez tenha faltado ao (Irmão) João Romão, ouvir a máxima do apostolo Paulo em II Tm. 6.10. “Porque o amor do dinheiro é a raiz de todos os males; e alguns nessa cobiça desviaram da fé e a sim mesmos se atormentaram com muitas dores.”
Devemos adorar a Deus não pelo que ele pode nos dar, mas sim pelo o que ele já nos deu, não pelo o que somos, mas pelo o que Ele é.




Orando por vossas vidas.

Fanuel Santos

domingo, 7 de dezembro de 2008

O dia depois da formatura.



Era cedo, mas eu já estava desperto (não me lembro de ter dormido), aluviões de idéias passavam por minha mente, desde o primeiro dia de aula até as ultimas palavras do Pastor que pregara no culto de formatura “fostes chamados para servir”! Tudo passava pela minha cabeça como uma rápida retrospectiva. Meu Deus, Como passara rápido! Verbalizo um pensamento que me atormenta.
O que parecia ser uma estrada não finita, uma senda interminável chegou ao fim. Roupas no chão, o sapato novo jogado pro lado como se fosse velho, sentimentos velhos travestidos de novos batem a minha porta. A euforia indômita da noite passada fora apenas um conto ligeiro? Então porque me sinto assim? Quero entender e é por isso que escrevo talvez nunca isso seja lido por alguém, mas para mim funciona como a prece da alma suplicante ao Deus clemente.
O dia depois da formatura é singular, torna-nos estranhos a nos mesmos, relembramos o passado, o projetamos o futuro. O que serei não sei ao certo, a única certeza que tenho é que não mais sou seminarista. Bom, ao menos ainda tenho uma certeza em um oceano de incertezas.
Por muitos meses estar fora do seminário fora para minha maior ambição, a maior expressão de liberdade, mas ainda não experimentei esse sabor, talvez as minhas “papilas gustativas” estejam desacostumadas ou viciadas com outros sabores e por isso não estejam degustando a sublimidade do banquete oferecido por Deus, e sancionado pelos amigos e familiares. Mas, quero aprender a ser livre, quero voltar a sorrir sem ter que dar explicações, ir dormir tarde sem pressa de acordar. Mister é dizer que romper a barreira do previsível é uma tarefa difícil, porém não é impossível. Por isso digo aos meus amigos e ex-colegas do IBAD, a vida continua, ou seja a vida começa agora, e em nome de Jesus reaprenderemos a degustar finas iguarias.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Perguntaram-me porque os catarinenses estão sofrendo.

O Brasil todo ficou chocado com as imagens aterrorizantes da catástrofe que ocorrera em Santa Catarina; morros caindo, casas sendo subterradas, carros sendo levados pela força impetuosa das águas. Fiquei pasmado e me emocionei quando vi a imagem de um caminhoneiro que encontrou o seu filho caçula boiando na lama, e o restante da sua família ainda continuava desaparecida. Onde estava Deus que não fez nada? Porque os catarinenses estão sofrendo? A minha resposta é: Eu não sei! Não sei porque eu sou Cristão! Se eu fosse pagão diria que o deus do trovão Tour e seu martelo estavam revoltados com os terráqueos que não lhe oferecera sacrifícios "convinientes", e com isso resolvera vingar-se de 1,5 milhão de pessoas atingindo eles com chuvas, e deixando cem mortos e 19 desaparecidos. Outros 78.707 desalojados ou desabrigados
Pronto! Ai estaria uma resposta para nossas inquietações. Todavia não estamos falando da mitologia nórdica da Europa pré-cristã, estamos nos referindo ao Deus que fez céus e terra e que nada acontece sem o seu consentimento. Não tenho uma teodicéia teológica para os corações catarinenses, pois descobrir que não "conheço" os pormenores de Deus, Mas tenho a minha solidariedade e minhas suplicas a Deus que lhe dêem forças para vencer, é Ele que esta presente em cada gesto de amor dos brasileiros, "que na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostram voluntários" ( II Cor. 8.3) isto me faz lembrar o filosofo André Conte Sponville em seu pequeno tratado das grandes virtudes: "Quanto ao bem, ele só existe na pluralidade irredutível das boas ações, que excedem todos os livros, e das boas disposições".

Orando por Santa Catarina.

Fanuel Santos.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008



Eu Quero ser Protestante. (Parte I)

A vida humana sem o conhecimento histórico é muito mais que uma mera ignorância; é uma infância perpetua, é apalpar um gato preto na escuridão. Historia é educação e libertação. Por não sabermos quem realmente somos historicamente não reivindicamos o nosso “quinhão de Luz”, e ficamos a mercê de pessoas inescrupulosas que confundem (?) espiritualidade com ignorância, obediência com alienação. O que passo a escrever agora, faço com cuidado devido os meus poucos anos de experiência e quando as minhas palavras parecerem um acerto de conta, perdoe-me! Escrevo como um militante da denominação e não como um egresso que deseja mostrar as fragilidades do credo professo outrora.
Era uma bela manhã de Domingo, o sol brilhava como que nos convidando a irmos a “Assembléia e louvarmos ao nosso bom Deus redentor”. Após um momento devocional nos dirigimos para as nossas respectivas classes. Estudávamos sobre Eclesiologia, o professor nos elucidava sobre a “supremacia” assembleiana em relação às demais igrejas e eu me sentia “assembleianisticamente” bem, aquilo inflava o meu ego de filho de Pastor. (pastor de congregação).
Uma jovem estudante chocada com as declarações do professor, pergunta a ele sobre as demais confissões de fé protestantantes, e o que havia de errado com elas? O professor irado, na sua concepção cheio do Espirito Santo lhe fala que “eles” haviam se apostatado da fé que uma vez fora entregue aos Santos. “Martinho Lutero era Padre” e que não era batizado com Espirito Santo, e que era inadmissível pensarmos em tais pessoas como salvos. A garota se calou concordando com o professor, mas em mim uma pergunta ecoou o que é a Assembléia de Deus? Somos anti-católicos, e para meu professor não temos relação com a reforma protestante do Século XVI.
O que presenciei naquela manhã, é apenas a ponta de um Iceberg chamado jactância denominacional um nefasto orgulho, e se repete constantemente em muitas igrejas pelos rincões do Brasil. O assembleiano inebriado com a sua “beleza”, vivendo tal como Narciso um romance consigo mesmo, não se atem que imaculada concepção teológica e eclesiológica não existe e nunca haverá. Não somos os únicos que trilham os caminhos do Nazareno. É imprescindível que nos assenhoreemos que da pré-reforma temos o legado do Cânon bíblico, da reforma temos a um retorno a justificação pela fé, dos avivamentos a ênfase na santificação. Logo, mesmo que de maneira desconhecida por alguns, temos marcas indeléveis dos nossos predecessores, que seja elas boas, que seja ruins. Ao meu antigo professor quero concluir que sou católico quanto a universalidade do termo, protestante quanto à profissão de fé, Pentecostal porque creio na contemporâneidade dos dons, inclusive alguns que a bíblia não menciona. A crença nos ensinamentos do Cristo nos irmana. Como já dizia o grande teólogo de Hipona: “aquilo que nos une, é maior do que o que nos separa”. Paradoxo! Pode ser, mas estou aprendendo a conviver com eles.

Orando por vossas vidas;

Fanuel Santos

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008



I– INTRODUÇÂO
Verba volant scripta manent
"Palavras voam, escritos ficam"


Quando criança no interior da Bahia lembro-me de sentar perto de alguns obreiros idosos da Assembléia de Deus e os ouvir contar sobre a chegada da Igreja ao Brasil, bem como as sagas de missionários pelos rincões do sertão nordestino, desafiando padres e a religiosidade sincrética do "Ethos baiano", (ALENCAR, 2005). Naquelas historias eu dava asas a minha jovem e indômita imaginação e via-me como um deles, em lutas quixotescas, contra os poderes das "trevas". Verdade ou não, aquilo serviu para a formação da minha personalidade e identidade, parafraseando Euclides da Cunha, pensava eu: "os Pentecostais são antes de tudo um forte". Não foi preciso muito tempo, para me perceber que a reflexão histórica dentro das Assembléias de Deus era relegada a um ultimo plano, circunscrita apenas a culto e semanas de "conscientização missionárias", com relatos mutilados e multilantes em conteúdo. Essa monografia "Desconhecimento denominacional: Hipóteses porque os Assembleianos desconhecem sua historia", elaborada apartir de pesquisas bibliográficas, mormente, livros e artigos, propõe responder os motivos que levam a isso, para tanto no primeiro capitulo trabalho o nascimento do pentecostalismo clássico, bem como algumas idiossincrasias do movimento nos seus primevos, visando uma melhor compreensão de algumas questões. Relato de forma concisa, todavia não superficial sobre a vida do evangelista Willian Seymour, e como se deu a formação da Assembléia de Deus.
No segundo capítulo faço um breve panorama sobre a inserção da Assembléia de Deus em solo "Tupiniquim" (ALENCAR, 2005), e como foi o crescimento nos primórdios da denominação, como se da o crescimento de forma periférica pela nação brasileira.
Este pentecostalismo, atualmente nominado de "clássico", foi trazido por imigrantes pobres, sendo, portanto, absolutamente marginal, por ser uma religião de pobres e pretos. Aqui cresce entre imigrantes nordestinos e alcança todo o país sempre de forma periférica. (ALENCAR, 2000, Pg.10)
No terceiro capitulo falo sobre a importância, do conhecimento histórico, nos diversos seguimentos da vida. Levanto as hipóteses sobre o desconhecimento histórico e a suas implicações no seio da comunidade assembleina. O tema da monografia me defende de possíveis adjetivações precipitadas, "Hipóteses", não estou afirmando, apenas inquirindo, como o a reflexão histórica é visto no centro das comunidades da Assembléia de Deus no Brasil. Não esgotando sobre o assunto lanço mão da Hipérbole, Joanina, o "mundo todo não conteria os livros que seriam escritos", se pormenorizássemos a inserção da Assembléia de Deus no Brasil.