quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Monoteismo


O monoteísmo hebraico caracteriza-se pela afirmação da existência de um só Deus. Sua oficialidade doutrinaria embasa-se em algumas expressões de fé, e São elas:

1-Somente Yahveh é Deus. Esta afirmação tem sua expressão marcante no famoso shema Yisrael em Dt 6,4. Ali se afirma textualmente: “Ouvé, ó Israel,Yahveh é nosso Deus, Yahveh é um”. A formulação é um credo de fé. É marcante para a consciência hebraica da adoração exclusiva a um só Deus.

2- O culto deve ser anicônico. Dizer isso significa que as práticas religiosas ou cúlticas devem acontecer sem recurso a qualquer tipo de imagens representativas de Deus. A proibição do uso de imagens acontece ao longo do conjunto dos textos da Bíblia hebraica como elemento religioso e identitário marcante da cultura hebraica.

3- Fé em Deus e ética no cotidiano. A reverência ao Deus Yahveh deve ser acompanhada por práticas eticamente regradas, substanciadas em mandamentos e leis. A dimensão ética da pertença à comunidade dos fiéis a Yahveh tem sua expressão no conjunto de leis, normas e orientações condensadas na Torá, isto é, na primeira parte da Bíblia hebraica. Por isso se fala também de ‘monoteísmo ético’.

O monoteísmo hebraico, embora seja a fé de um povo não surgiu de forma isolada e a-historica a partir do deposito de uma única cultura semítica. Sua formação se deu em dialogo com outras culturas e expressões de fé dos povos vizinhos; portanto o monoteísmo hebreu é uma síntese teológico-cultural produzida pelo povo do antigo Israel ao longo de vários séculos.

A adoração a uma única divindade fora um processo de discernimento e construção de um ideário e sua gradual inserção no imaginário coletivo do povo hebreu. Nos momentos inicias do povo hebreu havia uma pluralismo religioso, atestado pela existência de um panteão de deuses cananeus e Yahveh divindade que viria a ser própria dos hebreus, amalgamou-se com os atributos dos deus cananeu EL. Formas itinerantes e diversidade de culto eram marcantes neste período. A ‘arca da aliança’, mencionada em vários textos relativos a este período, é símbolo desta itinerância. No reinado de Davi, quando a arca é levada para a Jebus o culto a Javé torna-se culto oficial do estado, surgindo a idéia do Deus-rei, decantado em vários salmos. Com os cismas políticos e a descentralização do poder político de Jebus, os hebreus experimentaram outras divindades, ou até mesmo desenvolveram outras formas de cultuar a Yahveh, como é o caso da adoração ao deus Baal nas eiras e nas praças, denunciado pelos profetas como prostituição religiosa e como idolatria.

Nas reformas religiosos propostas por Ezequias e por Josias uma busca por um monoteismo nacional fora propugnada, toda forma de adoração a Yahveh desconectada de Jerusalém era anátema vários lugares de adoração foram destruídos.

Todavia, o amadurecimento e uma consolidação do monoteísmo hebraico se dá durante os séculos VI e V a.C., entre os anos de 597 e 538, no período do exílio. Neste período do chamado‘cativeiro babilônico’, parte do povo hebreu se viu confrontada através da convivência direta, com a cultura e as idéias religiosas dos povos mesopotâmicos, especialmente dos babilônios. Nessa dialética com as culturas estranhas, houve retroações de adaptações que redundaram em formas sincréticas de adoração, embora sobre a perspectiva hebraica. A manutenção e a afirmação da fé em Yahveh se tornaram expressões identitárias durante este tempo. A síntese monoteísta é: “somente Yahveh é Deus, fora dele não há outro deus” (Isaías 44,6)14. Aqui se está no nível de um ‘monoteísmo universal’, ainda que o termo ‘universal’ deva ser entendido em proporções muito mais reduzidas do que a compreensão contemporânea.

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