domingo, 1 de fevereiro de 2009

Sobre Jeremias e Pablo Picasso



Jean Paul Sartre afirmava que a vida era uma náusea, Buda por sua vez dizia que era uma angustia, mas a vida não é uma náusea nem é toda angustia, mas é muito náusea e não pouca angustia. Então o que fazer? Resta-nos fazer arte com aquilo que nos temos, com as nossas excelências e com as nossas excrescências, com as nossas virtudes e com os nossos vícios. Essa é indubitavelmente uma das mais belas qualidades dos seres humanos, a sensibilidade de se expressar em meio aos infortúnios da vida, alguns escrevem outros pintam, cantam, constroem monumentos, choram seus mortos, tudo isso como forma de minimizar e retratar o sofrimento. Os homens não se contentam apenas em vê, e ouvir; eles dão asas a sua indômita e transcendente capacidade de descrição, e como forma de protesto e lamento relatam o que viu e ouviu, transformam lágrimas em tintas, destroços em escultura, caos em cosmos, gritos estridentes em belas canções, desespero em adoração. Jeremias e Pablo Picasso, apesar de serem de épocas diferentes, possuem muitas coisas incomuns, ambos lamentaram em conseqüência as calamidades esmagadoras de seus tempos provenientes da guerra, e conseqüentemente legaram duas obras primas de valores culturais e espirituais para a humanidade, a saber, Lamentações, e a Guernica. Talvez você possa discordar dizendo que a guernica é realmente impar no que tange ao seu valor artístico cultural, entrementes a obra de Picasso não passa de um quadro em estilo cubista retratando a guerra, e não possui nada de espiritualidade nele. Mas não é isso que pensava o teólogo alemão Paul Tillich, que entrou em êxtase ao observar a obra de Picasso, e o que dizer do conde Nicolaus Zinzendorf que se convertera ao visitar uma galeria de artes, depois de observar um quadro de Cristo, e hoje ao falarmos de avivamento é impossível não mencionarmos os irmãos morávios que sob a dinâmica direção de Zinzendorf fizeram significativos trabalhos missionários pelo mundo. Bom, acho que isso elucida as razões porque creio que há muito de espiritualidade na obra de Picasso; acredito que podemos ser surpreendidos por Deus em lugares nada convencionais na perspectiva das nossas finas malhas ortodoxa.

Jeremias.
O Antigo Testamento fala bastante sobre a vida e o ministério desse profeta que nasceu em uma pequena vila por nome de Anatote, que ficava cerca de cinco quilômetros ao norte de Jerusalém. O seu chamado para o profetismo no reino de Judá deu-se ainda quando criança Jeremias 1.4-6. Sabemos mais a respeito do caráter de Jeremias do que sobre a maioria dos outros profetas, os seus textos proféticos revelam um homem com fortes e profundas lutas interiores. (Existencialismo?) Mas é em lamentações, livro atribuído a ele pelas tradições judaica e cristã que conhecemos mais acerca desse profeta. O livro de lamentações trata-se de um poema fúnebre, com descrições vívidas da destruição da cidade de Jerusalém pelas tropas de Nabucodonosor. As ruas estão desertas, há poucos sobreviventes, que estão recorrendo secretamente ao canibalismo, o que outrora fora uma cidade populosa, estava deserta e solitária; talvez se ele pintasse um quatro teria muitas semelhanças com a guernica de Picasso . O profeta não inventa uma historia fictícia, e nem tão pouco ele era um esquizofrênico, ele se afirma que as descrições feitas por ele são verídicas, “Eu sou o Homem que vi a aflição”. Lamentações 3.1. O ponto culminante do poema e do livro e o que cativa a minha atenção nesse retrato do horror descrito por Jeremias, é sua confianças na fidelidade de Deus. “Quero trazer a memória aquilo que me traz esperança, as misericórdias do Senhor são as causas de não sermos consumidos” Lamentações 3.2. As lembranças que antes desencorajavam agora encorajam, ele percebe que ainda havia esperanças para o seu povo, na angustia o profeta e poeta Jeremias destila uma confiança na providência de Deus. Ele olha, e onde muitos só viam carnificina, entulhos, ele percebe e sente o aroma da rara ‘flor’ da adoração.

Pablo Picasso.
Picasso nasceu em 25 de outubro de 1881 na cidade espanhola de Málaga pintor e desenhista, ele se tornou um dos mais importantes artista plástico da historia. As suas obras retratam fatos da vida burguesa e circense. Assim como o profeta Jeremias, também iniciou as suas aptidões ainda quando criança, o talento para o desenho e artes plásticas em Picasso eram facilmente perceptíveis. Entre suas obras podemos citar: "Arlequim", "A Guitarra", "Mendigos", "O Cego", "A Família Soler", "O Moço do Cavalo", "Mulher de Verde", "A Alegria de Viver", e outras. Todavia a mais notoria de todas as suas obras fora a guernica (imagem acima), o trabalho retrata a reação do pintor aos ataques sangrentos a antiga capital basca de guernica pelos os aliados alemães de franco, em Abril de 1937. a pintura fora feita em preto e branco, demosntrando o repúdio do pintor as atitudes despotas dos tiranos fascitas aliandos a Hitler. Conta-se que os nazi-fascistas foram a Picasso, colocaram o quadro na frente dele e perguntaram: foi você que fez isso? Ao que ele respondeu: não vocês fizeram isso, eu só pintei! O que seria escrito se ao envez de pintar, Picasso escrevesse as tristes cenas da guernica , quem sabe seria algo mais ou menos assim: “As suas Portas caíram por terra; ele quebrou e despedaçou os seus ferrolhos..com lágrimas se consumiram os meus olhos turbada esta a minha alma, e o meu coração se derramou de angustia por causa da calamidade do meu povo; pois desfalecem os meninos e as crianças de peito pelas ruas das cidades” Lamentações 2.9-11.



Conclusão.
A beleza da vida, não é que a vida seja totalmente desprovida de amarguras, mas é que em meio as fealdades e contigências da vida, seres humanos fatigados pelas muitas mazelas do existir conseguem dançar com o vento com coreagrafias propostas pelas folhas das arvores, pessoas que se redescobrem após momentos dolorosos, e lançam “guerra” contra o determinismo fatalista. Então, que nos resta e pintarmos quadros, escrevermos textos, e quando nem isso conseguirmos fazer, mostremos lingua, façamos careta, enfim não devemos aceitar passivamente os horrores provinientes da guerra, não serão eles os arbitos das nossas vidas, finalizo com um pensamento de Sorem Kiekiguarde . “Com a ajuda do espinho em meu pé, pulo mais alto que qualquer pessoa com o pé sádio”.

Orando por suas vidas

Fanuel Santos
Asa Sul, Brasilia Df, Verão de 2009.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo Pr. Fanuel. Ótimo artigo!

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  2. Obrigado Pr. Filipi, artigo esse que fizera eu ainda em crise do pós-Ibad. rsrsr

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